20050331

Do caso da bala perdida

Nele sempre havia algo que o impelia a gostar da expressão "amantes", como que para classificar aquilo que lhe parecia inclassificável. E com isso dava a esses seguimentos amorosos a qualidade máxima que podia caber dentro da própria palavra. Eram sempre eles os que amavam.
Os outros...bem os outros, eram estrangeiros naquele país. Era como se possuíssem outros sentimentos....Outras qualidades morais, racionais e até físicas. O dom do amor genuíno só havia sido concedido à ele e aos que compartilhavam de suas experiências.
À pouco, li num blog de uma escritora jovem, pela qual venho me interessando muito ; que a palavra "amante" parecia conter um caroço no meio. Que parecia fazer com que uma relaçao pudesse escorregar perigosamente pruma pista de dança, ou prum romance dramático, e assim perdesse o seu essencial. Que o termo só deveria ser usado como uma jóia.
E voltando ao enamorado em questão , talvez seu problema fosse justo esse.
Se sentia heróico, e mais genuíno lidando com o drama dos amantes. Era como usar jóias à todo momento. Torná-las mais simples. Menos preciosas em relaçao ao que julgava precioso. Talvez pra esconder dentro da ostra aquilo que lhe parecia mais secreto e íntimo...Mais secreto e íntimo até do que os seus atos de entrega aos amantes passageiros. Algumas frutas são mais dificeis de comer do que outras, devido justamente ao caroço. Mas seu paladar sempre lhe era mais apetitoso pelas regras do desejo que lidavam com as suas dificuldades.
A vontade de pertencer, quase que de forma material lhe vinha corroendo, pelas unhas, dedos, e lábios à algum tempo. E não queria mais ser pertencente num estado passageiro...
Enxergava nessas idas e vindas dúvidosas a possibilidade ocasional de um encontro.
Até porque não era à todas as relações que denominava o termo "amantes"...Sómente àquelas que sem títulos e nem promessas tomavam o tempo como um espaço de um livro. Ou melhor, como àquelas flores, que sem saber muito o porque, colocamos dentro das páginas de um livro e deixamo-nas secar. Guardamos. Assim lhe parecia pertencer. Ou como no caso de um suícida no encontro de uma bala perdida. No qual não se sabe mais se o suícida matou-se, ou sofreu de um ato externo; e criminoso...Ia de amante em amante, em busca de uma escolha alheia. De um caroço alheio à lhe ser oferecido.
Uma fatalidade, sem culpa, e indolor.

flanando : http://novedecopas.blogspot.com/

20050329

I

Creio que guardarei teu código, teu calo, teu gosto

Num gole qualquer

Na quarta, na quinta ou quando Agosto chegar.