20051213

Le Fugitif

Some com as gravatas na maleta
Soca rolhas, saca selos, ata o nó na minha garganta
Fecha a gaveta
Saiba
Isto não é uma aventura usual
Tiras, balas, são só intrigas do ostracismo.
Não há tiros, e sem cisma eu não atiro!
Sai dessa culatra que não te pertence, um caso nada habitual
E quem foge segue um fado
Sem final.

20051129

brevíssimo ensaio sobre a obscuridade

...Quem muito se tece das sombras, se enrola nos fios de Ariadne, à meandros do labirinto.

E ganha para si, seu maior Minotaurus...

20051116

vulllgar

Não me destrate, se esse tango eu não dançar
eu posso ouvir, posso aplaudir e até cantar
e posso mais, um olhar fatal dissimular
Mas meu negócio é do outro lado
Eu sambo bem, sambo espaçado
O meu negócio é samba bom de se sambar

Não me descuido se um tangueiro te encantar
E não te estranhes se logo eu me acanhar
Não me peça, que eu não posso te explicar
esse negócio logo eu me intimidar
Que essa dança me recuso à dançar
Se fosse bom, não enrroscaria o teu gingar
eu sou mais eu
mas vem que tem, ya vulvo lá
eu sei muy bien, do tango
no te puedes olvidar

chuta pra lá, chuta pra cá, meu bem
chuta pra cá, chuta pra lá
nem vem
Essa tua milonga anda sem berenguendem
chuta pra lá, chutra pra cá, meu bem
chuta pra cá, chuta pra lá
nem vem
Essa tua milonga anda sem berenguendem

E se o meu samba não te agradar
Já sei, no tango tem quem queira te levar
A gafieira você vai abandonar
E o meu medo é na volta te escuchar:
à Buenos Aires yo me vuelvo sin tardar

3X À Buenos Aires yo me vuelvo sin tardar
Teu canto é o samba é sempre bom, mas é vullllllgar.

20051031

Tarde Triste

Ao fim da tarde eu sei que ouvi
como quem não sabia compôr
um grande amor
Nos meus suplícios, eu entardeci
E voltei o meu pranto à nós dois
nenhum torpor

Era a tristeza de uma canção
Uma ilusão recomposta pra dois
Não há o que cantar do que vem depois
Desencantar do meu grande amor
Morrer e amar, oh meu Senhor
E renascer como num botão de flôr

E na certeza de um amanhã
Devotei minha alma ao mar
à navegar
Ao fim da tarde eu sei que ouvi
Com a destreza que vinha do céu
Do sol, sem cor

Nada pode ser mais cruel ou pior
Uma ilusão que anoitece em nós
Não há o que há se não há depois
Desencantar do meu grande amor
Morrer e amar, oh meu senhor
E renascer como num botão de flôr

20050930

Ainda em setembro...

na minha rua, as janelas se abrem sempre às 8.
Fecham-se as 9.
E só sei das coisas que me importam um pouco.
As calçadas respingadas de tinta azul, foram repintadas. De azul.
Um blazer foi levado pelo senhor de óculos largos ao tintureiro. Ele não levava muito dinheiro.
As crianças vestidas de capa amarela brincaram de amarelinha, no beco onde um cachorro bebia poça de chuva.
Um rapaz novinho foi surpreendido pelos pais gemendo ao telefone, não sabiam eles que do outro lado, quem lhe falava era um homem.

Na minha rua, tem mulheres que experimentam.
Saíram todas cintilantes , vestidas em lantejoulas e um pouco de audácia.
A menina Rosa saiu vestida de vermelho. Foi à aula de francês.
O casal enamorado se desfez. Isso ela lhe avisou por escrito.
Um casal desavisado se fez.
E um trio desavergonhado, acordou pelado.

Na minha rua, o vento esqueceu que era primavera .
Friamente veio gritando pelos cantos.
A alma de uma casa velha saiu desmoronando-se aos prantos.
O padeiro como sempre, chegou ao trabalho no horário costumeiro. Atendeu o bancário por primeiro e revelou-lhe um segredo.
A viuva dormiu com um velho chorinho ao lado, sem saber que este lhe seria o derradeiro, e não levantou para tomar o leite fresco, que havia sido colocado em sua porta, logo cedo pelo leiteiro.

Na minha rua, existem os anjos que nos rezam para finalizar os dias.
E em um dia frio, só o silêncio saiu para trabalhar.
Podia-se ver o tempo que levou.

20050915

pas de deux

para Monsier R.S.

Eu vou te arrastar, vou te agarrar, nem vou te explicar
que quem não sabe se balança
e quem não viu perdeu a dança
eu quero um top hat, um fox trote um balancê
eu e você num pas de deux
E se o teu sapato me pisar
se o salão desaprovar
vai vir à tona
eu vou gritar, eu vou gritar, eu vou gritar
o que eu só quero, e com você
Vamos dançar na lona !
Vamos dançar na lama !
Vamos dançar no meio da rua !
Qualquer passante vai entender
no asfalto eu sei
o teu pisante, vai amolecer
vai ter que amolecer !
Eu e você num pas de deux
Eu quero um top hat, um fox trote um balancê
eu e você num pas de deux

20050907

sambado descompasso

Teu carnaval me pregou uma peça
Me esbaldei, me perdi à beça
nesse teu baile eu não vou mais
eu não vou mais
E agora veja só
Vê e não me peça
De coração me emblemei
de gole em gole, embarquei num pileque desses
salão à fora desconcertei
assim se perde a calma
compasso, exatidão
desafina todo e qualquer violão
Nesse teu baile eu não vou mais
eu não vou mais
E agora veja só
Vê e se despeça
Não se escancara assim um cidadão
nú em meio à multidão
onde tudo é fantasia
são mascaradas as alegrias
onde se ama só a ilusão
a dor embebeda em solidão
Mas que confusão!
Nesse teu baile eu não vou mais
eu não vou mais
nesse teu baile eu não vou não

20050721

brevíssimo ensaio sobre o desejo

- Já notou como o sol bate pelas frestas, nestes dias frios ?
É um calor cinza, que vem das janelas fechadas sobre a nossa cama. E não é que vem das ruas, ou das cobertas.
- É... É quase uma febre.

20050616

Loja de Inconveniências - 24horas

Localizada num bairro residencial; e ao lado da casa daquela senhora sem filhos e viúva; servimos um vasto cardápio à você nosso mais querido cliente; e agora estamos abertos por 24horas! Faça parte do nosso "mailing" e receba 40 emails por dia, para ficar por dentro das nossas novidades como: o incrível coquetel de destilados com fermentados; ou a maravilhosa porção de alho frito!
Aqui o gerundismo é bem vindo, pois "nós vamos estar sempre querendo melhor poder estar recebendo nossos clientes"! Celulares e pagers iguais ao seu tocarão o tempo todo como trilha do local! Piadas que todos já conhecem e contadas pelos ébrios menos talentosos são sucesso garantido!
Nossas cervejas nunca estão geladas, e os garçons nunca chegam à sua mesa!
Serão bem vindos: vendedores de bugigangas, flores e cartunistas ambulantes. Também entrarão com desconto ex-namorados, ex-maridos e fantasmas sentimentais; e se os mesmos ainda possuem relações delicadas com os clientes já presentes, é só procurar por seus nomes na lista de entrada que esta será gratuíta.
Porém atenção: é proíbida a expressão "deixa disso!" entre dois bêbados, principalmente se ela vier de um terceiro que nada tem a ver com a briga, na intenção de apartá-la; nesse caso a pessoa será convidada a se retirar do local! É também proíbida à entrada de pessoas que não bebem quando dirigem! E não existem taxis na rua de saída...Nossa portas de emergência estão emperradas, por isso pedimos que não se incomodem com os transtornos, isso tudo será resolvido "sabe se lá quando" para melhor servi-los!

ps- caso hajam dúvidas ou reclamações sobre o nosso funcionamento, nossas atendentes possuem uma infinita variedade de toques musicais coreanos para melhor atendê-los!

20050608

palíndromo

E logo, a sós, revê-los ... Só lê versos ao gole!

20050524

brevissimo ensaio sobre a violência

1- Listar um texto é sempre uma forma de violentá-lo.
2- Um botão aberto de rosa é tão violento e obsceno quanto uma ferida exposta em carne viva.
3- "Sim!" é sempre uma resposta violenta; seja qual for a pergunta.
4- O coração é um orgão que "bate", enquanto que o cérebro age racionalmente.
5- Certas bocas são talhadas como um corte bem no meio do rosto.
6- Fitar alguém com os olhos pode ser fulminante.
7- Uma mariposa violenta-se com frequência enquanto pensa beijar a luz; certas pessoas também.
8- As vitrolas ferem o disco com agulha.
9- As vezes o sol entra violentamente pelas janelas do meu quarto.
10 - Texto postado é texto violentado.

20050515

Carta

( Carta escrita em Julho de 2004 - editada e adaptada por Xico Sá - publicada pela Editora do Bispo em "Se um cão vadio aos pés de uma mulher-abismo" de Xico Sá e Pinky Wainer - Novembro de 2004)

"Assunto: carta-pedra
Data: Sat, 13 Nov 2004 12:43:0200

Toda pretensão numa carta só.

Você tem medo. Medo da promessa que seremos nós. De felicidade.
(...)
Medo de perder mais livros entre meus lençóis. Medo. Demasiado medo de ser demasiado. De tremer. Medo de saber que eu o sei com medo. (...) Nos meus medos.
(...) Medo de tremer. Medo de descobrir a razão do meu tremor, e descobrir sua cura. E assim tremer ainda mais.
(...)
A teu lado me sinto MAIS poeta. Embora morra um pouco do poeta em mim a cada segundo. A cada palavra. A cada poema.
(...)
Tenho medo de não dormir. De não comer. E de falar
demais...
Morro de medo de não achar mais livros entre meus lençóis. Ou de encontrar alguns que não me digam NADA! (...)
Estamos perdidos.
Tudo. Tudo parece que está perdido.
Completamente.
Eis o que mais me assusta: Pensar que agora não há mais razões para ter medo.

PS- Pedro, creio que fosse mais eficaz dar-lhe uma pedrada na cabeça...quem sabe...

Ass. T.F."

20050503

ao calar

Se meus silêncios tivessem partituras, seriam um jazz.

20050502

............................................Novelos Vagos

Assim. Como novelos.
Vagam. Perambulam.
Os dois se desenrolam em goles
cantos, ruas, engenhos e contas.
Há certos meninos que guardam o que há
de “graça” em seus livros
em grutas, gretas e garoas.
Há algo, que não cessa.
Eles nunca viram tanta graça. Quanta cisma.
Um cismou que há algo. Sem pressa.
Há algo,
sujo, imundo
gasto e grudado
em seu sapato.
Alguns meninos
só se dão conta da poesia
quando assim
Cravada em seus pés.
Sem tropeços, sem acertos.
Sem detalhes.
Sem mais dentadas.

20050422

Just in time

Para ganhar um presente por dia: basta abrir um livro esquecido dentre todos de uma estante.
Aquela pétala seca e dura. Esvaziada de sentidos ou de nomes.
A amiga que deixou-lhe um bilhetinho sobre cores e telefones.
Uma frase grifada; que hoje pode lhe parecer menos interessante que todo o resto da página.
A citação sombria de Bataille anotada como um pensamento estupido, à caneta esferográfica, manchando uma página bonita e ilustrada.
E uma velha anotação que nunca teve destinatário; escolhida a dedo, mas sem querer dentre as páginas do capítulo "Exuberância" de um livro orácular.
Ainda bem que eu não sou superticioso...Pero que las hay, las hay!

20050416

brevíssimo ensaio sobre o melancólico

Acordou; invadido pela euforia solar que adentrava as janelas, que foram esquecidas abertas na noite anterior...
Resgatou o lençol seqüestrado pelos pés da cama. Resgatou alguma coisa, do fundo da memória. Resgatou um livro esquecido há mais de um mês no criado mudo. Que assim como o criado também não disse nada.
Distrai-se com seus pés. Com as mãos. Os dedos.
Distrai-se com o nó no peito.
Levantou.
Tirou as asas presas pelas costas.
Anotou alguma bobagem num pedaço roto de papel:
“ Levar as asas pra lavar. Deixa-las secar sob a janela. Hoje o sol está quente! ”

20050413

desafio

...que ironia; me engasgaram pelo fio do telefone!...

20050412

Os imorais

Então, quando você chega ja existe uma série de coisas que me torturam. E essas lições de cinema, não poderiam mesmo ter tomado outras vias.
Aprender silêncios controladores pra não dar as queixas por aí; um olhar sedutor e acossado caso alguém apareça para me acossar; e um levantar de sobrancelhas de uma persona comum, de um noir qualquer, que seja capaz de desviar o foco das mãos trêmulas de todas as nossas conversas.
Que ironia: ser o vulto atrás da nevoa de cigarros, enquanto o desejo é ensolarado, mesmo que pelo sol cinza, daqueles em preto & branco.
E depois de tanto assistir a imoralidade fria de Jeanne Moreau, ainda me espanto que me convidem à viver pelas frestas.

20050411

brevíssimo ensaio sobre o erótico

Despediu-se ríspidamente. Considerou ainda que já era tarde para uma visita.
Só havia aparecido para devolver-lhe o livro.
O café ou o jantar , ficariam assim: quizás, quizás, quizás.
O som do elevador chegando no hall petrifíca todo instante.
A última olhadela pelo "olho mágico" não faria mal a ninguém...tão discreto, tão voyer.
Foi-se.
Restou apenas sentar na poltrona azulada. Acender um cigarro. Em frente à escrivaninha, e a xícara de café ainda quente; fumegante.
A campaínha toca; mais uma vez a porta é aberta.
Entra. Volta-se pelo apartamento, sem cerimônia.
Num silêncio; toca com os dedos tudo por onde passa: móveis, porta-retratos, a mesa com contas e cartas, a estante de livros....um por um...Escolhe o que mais lhe estima: afetado; capa dura e vermelha.
Caminha. Deixa-o sobre a escrivaninha.
Um olhar vago. Uma expressão séria. Uma boca entre-aberta.
Um dedo mergulhado no café.
E um sussurro qualquer em francês.

20050408

La Mer

Pois se o dia amanhecer entre o rosa e o azul bebé;
vou esquecer-me da desconfiança dos meus passos ao levantar da cama;
e suspirar até o folêgo achar que não tem mais por onde;
e vou encostar o rosto na janela, assim;
só ouvidos atentos;
como se o mundo também suspirasse e se pudesse escutar um som em uníssono, de todos os suspiros do mundo;
como se suspirassem por aí uma canção bem boba do Charles Trenet;
e vou querer escrever um texto bem risonho e adocicado;
que digam que não é literatura que se preze;
mais, que digam que só há serventia no apetecer dos sentidos.

20050406

Souvenir

Nota de esclarecimento, para que não hajam dúvidas penosas, ou trapos atirados nos caminhos que estou à trilhar...!
Se eu quisesse dormir bem, e cedo eu dormiria bem cedo.
Se eu achasse que seria mais conveniente não ouvir discos envelhecidos e empoeirados numa vitrola, porque isso tudo soa melancolico, e a melancolia afasta a vivacidade do meu olhar, o rádio com cds bastante modernos está extamente ao lado da vitrola, mas mesmo assim nao costuma ser usado.
Se eu jogo baixo para seduzir as pessoas é porque me diverte que seja assim...
Se eu quisesse evitar essas discussões insólitas que eu crio por aí...e que são tão penosas quanto "E o vento levou...", eu evitaria, e pararia com essa mania de Scarlett O hara.
Se eu gostasse de fumar 5 cigarros no dia, eu fumaria os 5, mas eu gosto de acabar meu dia sabendo que não resta mais nenhum e que ainda existe um maço inteiro e novinho pra ser fumado no dia seguinte. E se eu quiser dar uma de louco, digo que estão em falta e que vou sair pra comprar!.....E não volto nunca mais.

20050403

Sobre o tédio, o anonimato , meninos branquelos e Billie Holliday

Quando abri os olhos, ela já estava me beijando no rosto.
Acho que toda mulher já deve ter desejado um dia ter aqueles lábios . E sei que com certeza todos os homens me invejariam de tê-los...que fossem mesmo só no rosto.
Ainda sentia nela um cheiro de bebida. E isso era o que me encantava todas as manhãs que ela me surpreendia com um beijo. Sempre no rosto. E do lado esquerdo. Entre a testa e as bochechas. Talvez onde se dê o nome de têmporas. Mas prefiro dizer que ela me beijava a sobrancelha.
E o quarto era só um misto de um amarelo fraco , um vinho envelhecido e o azul...
Já é a terceira vez que tento escrever um texto sobre o tédio.
O que começa a me parecer quase impossível. Principalmente depois do diálogo que travei durante toda a tarde com Sr.Miller.
Chegamos a conclusão que para se escrever sobre o tédio, é necessário desenvolver uma espécie de astúcia...Uma astúcia na qual se pode fazer parecer que nada ali é processado, nada está de fato sendo escrito, acontecendo...Uma traduçao do próprio sentimento. Embora esteja tudo lá. Ao fim.
Mas voltemos à ela...
Enquanto me dava uma das suas gardênias, me contou sobre as cicatrizes espalhadas pelo corpo. E eu quis beijá-la...Beijar uma por uma...Sentir onde é que sua péle possuia as marcas mais grossas, ou asperas...e onde não...onde uma cicatriz podia ser somente um desenho...uma forma deleitosa. Um mapa. Uma explicação do porque vinha me acordar em algumas manhãs de domingo ensolaradas...mas em que o sol se apresentava assim...sem graça e franzido...
Falou-me do problema em suas autorias...De como suas gravações eram impossíveis de serem confundidas. E como seria muito bom em certos momentos que ela se confundisse com o que ouvia dela mesma. Que quando um autor não se declara como o autor de uma coisa, pode ser tocado de outra maneira por ele mesmo. Queria achar triste ouvir que "seu homem" tinha partido, achando que era o homem de outra...E que o anônimato nos permite um outro tipo de franqueza. Isso lhe parecia as vezes... . Para assumir suas dores apenas por identificação...Como se mais alguém pudesse saber exatamente do que àquilo se tratava. Com a voz da outra...Essa outra que era tão singular e inconfundível...ela mesma.
Cantei pra ela uma de suas canções, como que na esperança de realizar seus desejos. Mas me corrigiu a letra, o tom, e nota por nota. Acabou cantando sozinha . Do jeito que achava que tinha de ser. E que não haveria de ter igual.
Rimos um pouco....ela me ofereceu um drink e me explicou sobre sua falta de interesse sexual por meninos como eu...pequenos, magrelos, e quase infantis, e com uma languidez aparente... Não se desculpava por isso. Mas dizia que meninos branquelos lhe eram pouco apetitosos. Que só me comeria num caso de virgindade, algo que até poderia excitá-la bastante...E como eu nao sou mais virgem... Mas com os negros, era diferente. O suor era diferente. Os rostos não ficavam avermelhados como se o esforço os fizesse parecer tímidos ou arfantes acanhados. Embora tenha dito, que lhe tomavam o tempo. Ja as mulheres...estas eram suas preferidas. Não importando nem cores e nem formas.
Mas que mesmo assim, sem saber muito o porque, me tinha um afeto bem guardado... E sem explicar as razões da visita e nem avisar quando seria a próxima... reclamou que não podia mais perder-se ali comigo. Irritou-se. Talvez com algo que eu tenha dito; um olhar meu qualquer...Ou só um relógio fazendo tic- tac.
E vinha chegando o anoitecer. E com isso, de forma usual partia deixando no ar e no céu um estado negro. Um negro absoluto. Irritadiço. Tão melancólico e libidinoso...Quase triunfal...
Bom...e o tédio...causador de toda essa escrita onde tudo acontece e está em movimento e nada parece de fato tedioso...bom...ele fica ainda prum outro dia...

20050401

abotoa-me

Só mais uma coisa... Antes que se esqueça. Que se deite.
Antes que fechem as janelas;
Que apaguem as luzes.
ABOTOA-ME

20050331

Do caso da bala perdida

Nele sempre havia algo que o impelia a gostar da expressão "amantes", como que para classificar aquilo que lhe parecia inclassificável. E com isso dava a esses seguimentos amorosos a qualidade máxima que podia caber dentro da própria palavra. Eram sempre eles os que amavam.
Os outros...bem os outros, eram estrangeiros naquele país. Era como se possuíssem outros sentimentos....Outras qualidades morais, racionais e até físicas. O dom do amor genuíno só havia sido concedido à ele e aos que compartilhavam de suas experiências.
À pouco, li num blog de uma escritora jovem, pela qual venho me interessando muito ; que a palavra "amante" parecia conter um caroço no meio. Que parecia fazer com que uma relaçao pudesse escorregar perigosamente pruma pista de dança, ou prum romance dramático, e assim perdesse o seu essencial. Que o termo só deveria ser usado como uma jóia.
E voltando ao enamorado em questão , talvez seu problema fosse justo esse.
Se sentia heróico, e mais genuíno lidando com o drama dos amantes. Era como usar jóias à todo momento. Torná-las mais simples. Menos preciosas em relaçao ao que julgava precioso. Talvez pra esconder dentro da ostra aquilo que lhe parecia mais secreto e íntimo...Mais secreto e íntimo até do que os seus atos de entrega aos amantes passageiros. Algumas frutas são mais dificeis de comer do que outras, devido justamente ao caroço. Mas seu paladar sempre lhe era mais apetitoso pelas regras do desejo que lidavam com as suas dificuldades.
A vontade de pertencer, quase que de forma material lhe vinha corroendo, pelas unhas, dedos, e lábios à algum tempo. E não queria mais ser pertencente num estado passageiro...
Enxergava nessas idas e vindas dúvidosas a possibilidade ocasional de um encontro.
Até porque não era à todas as relações que denominava o termo "amantes"...Sómente àquelas que sem títulos e nem promessas tomavam o tempo como um espaço de um livro. Ou melhor, como àquelas flores, que sem saber muito o porque, colocamos dentro das páginas de um livro e deixamo-nas secar. Guardamos. Assim lhe parecia pertencer. Ou como no caso de um suícida no encontro de uma bala perdida. No qual não se sabe mais se o suícida matou-se, ou sofreu de um ato externo; e criminoso...Ia de amante em amante, em busca de uma escolha alheia. De um caroço alheio à lhe ser oferecido.
Uma fatalidade, sem culpa, e indolor.

flanando : http://novedecopas.blogspot.com/

20050329

I

Creio que guardarei teu código, teu calo, teu gosto

Num gole qualquer

Na quarta, na quinta ou quando Agosto chegar.