20050524

brevissimo ensaio sobre a violência

1- Listar um texto é sempre uma forma de violentá-lo.
2- Um botão aberto de rosa é tão violento e obsceno quanto uma ferida exposta em carne viva.
3- "Sim!" é sempre uma resposta violenta; seja qual for a pergunta.
4- O coração é um orgão que "bate", enquanto que o cérebro age racionalmente.
5- Certas bocas são talhadas como um corte bem no meio do rosto.
6- Fitar alguém com os olhos pode ser fulminante.
7- Uma mariposa violenta-se com frequência enquanto pensa beijar a luz; certas pessoas também.
8- As vitrolas ferem o disco com agulha.
9- As vezes o sol entra violentamente pelas janelas do meu quarto.
10 - Texto postado é texto violentado.

20050515

Carta

( Carta escrita em Julho de 2004 - editada e adaptada por Xico Sá - publicada pela Editora do Bispo em "Se um cão vadio aos pés de uma mulher-abismo" de Xico Sá e Pinky Wainer - Novembro de 2004)

"Assunto: carta-pedra
Data: Sat, 13 Nov 2004 12:43:0200

Toda pretensão numa carta só.

Você tem medo. Medo da promessa que seremos nós. De felicidade.
(...)
Medo de perder mais livros entre meus lençóis. Medo. Demasiado medo de ser demasiado. De tremer. Medo de saber que eu o sei com medo. (...) Nos meus medos.
(...) Medo de tremer. Medo de descobrir a razão do meu tremor, e descobrir sua cura. E assim tremer ainda mais.
(...)
A teu lado me sinto MAIS poeta. Embora morra um pouco do poeta em mim a cada segundo. A cada palavra. A cada poema.
(...)
Tenho medo de não dormir. De não comer. E de falar
demais...
Morro de medo de não achar mais livros entre meus lençóis. Ou de encontrar alguns que não me digam NADA! (...)
Estamos perdidos.
Tudo. Tudo parece que está perdido.
Completamente.
Eis o que mais me assusta: Pensar que agora não há mais razões para ter medo.

PS- Pedro, creio que fosse mais eficaz dar-lhe uma pedrada na cabeça...quem sabe...

Ass. T.F."

20050503

ao calar

Se meus silêncios tivessem partituras, seriam um jazz.

20050502

............................................Novelos Vagos

Assim. Como novelos.
Vagam. Perambulam.
Os dois se desenrolam em goles
cantos, ruas, engenhos e contas.
Há certos meninos que guardam o que há
de “graça” em seus livros
em grutas, gretas e garoas.
Há algo, que não cessa.
Eles nunca viram tanta graça. Quanta cisma.
Um cismou que há algo. Sem pressa.
Há algo,
sujo, imundo
gasto e grudado
em seu sapato.
Alguns meninos
só se dão conta da poesia
quando assim
Cravada em seus pés.
Sem tropeços, sem acertos.
Sem detalhes.
Sem mais dentadas.