na minha rua, as janelas se abrem sempre às 8.
Fecham-se as 9.
E só sei das coisas que me importam um pouco.
As calçadas respingadas de tinta azul, foram repintadas. De azul.
Um blazer foi levado pelo senhor de óculos largos ao tintureiro. Ele não levava muito dinheiro.
As crianças vestidas de capa amarela brincaram de amarelinha, no beco onde um cachorro bebia poça de chuva.
Um rapaz novinho foi surpreendido pelos pais gemendo ao telefone, não sabiam eles que do outro lado, quem lhe falava era um homem.
Na minha rua, tem mulheres que experimentam.
Saíram todas cintilantes , vestidas em lantejoulas e um pouco de audácia.
A menina Rosa saiu vestida de vermelho. Foi à aula de francês.
O casal enamorado se desfez. Isso ela lhe avisou por escrito.
Um casal desavisado se fez.
E um trio desavergonhado, acordou pelado.
Na minha rua, o vento esqueceu que era primavera .
Friamente veio gritando pelos cantos.
A alma de uma casa velha saiu desmoronando-se aos prantos.
O padeiro como sempre, chegou ao trabalho no horário costumeiro. Atendeu o bancário por primeiro e revelou-lhe um segredo.
A viuva dormiu com um velho chorinho ao lado, sem saber que este lhe seria o derradeiro, e não levantou para tomar o leite fresco, que havia sido colocado em sua porta, logo cedo pelo leiteiro.
Na minha rua, existem os anjos que nos rezam para finalizar os dias.
E em um dia frio, só o silêncio saiu para trabalhar.
Podia-se ver o tempo que levou.
20050930
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1 comentário:
Na minha vida tem um menino de cabelos falsamente rebeldes, que tem um mundo todo dentro dele.
Beijos. Lindo textinho.
Thiamo
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