20050411

brevíssimo ensaio sobre o erótico

Despediu-se ríspidamente. Considerou ainda que já era tarde para uma visita.
Só havia aparecido para devolver-lhe o livro.
O café ou o jantar , ficariam assim: quizás, quizás, quizás.
O som do elevador chegando no hall petrifíca todo instante.
A última olhadela pelo "olho mágico" não faria mal a ninguém...tão discreto, tão voyer.
Foi-se.
Restou apenas sentar na poltrona azulada. Acender um cigarro. Em frente à escrivaninha, e a xícara de café ainda quente; fumegante.
A campaínha toca; mais uma vez a porta é aberta.
Entra. Volta-se pelo apartamento, sem cerimônia.
Num silêncio; toca com os dedos tudo por onde passa: móveis, porta-retratos, a mesa com contas e cartas, a estante de livros....um por um...Escolhe o que mais lhe estima: afetado; capa dura e vermelha.
Caminha. Deixa-o sobre a escrivaninha.
Um olhar vago. Uma expressão séria. Uma boca entre-aberta.
Um dedo mergulhado no café.
E um sussurro qualquer em francês.

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